sábado, 13 de novembro de 2010

A vOz dO siLênCio

Pior do que a voz que cala,



é um silêncio que fala.


Simples, rápido! E quanta força!




Imediatamente me veio à cabeça situações


em que o silêncio me disse verdades terríveis,


pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.


Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.


Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.




Silêncios que falam sobre desinteresse,


esquecimento, recusas.


Quantas coisas são ditas na quietude,


depois de uma discussão.


O perdão não vem, nem um beijo,


nem uma gargalhada


para acabar com o clima de tensão.




Só ele permanece imutável,


o silêncio, a ante-sala do fim.




É mil vezes preferível uma voz que diga coisas


que a gente não quer ouvir,


pois ao menos as palavras que são ditas


indicam uma tentativa de entendimento.


Cordas vocais em funcionamento


articulam argumentos,


expõem suas queixas, jogam limpo.


Já o silêncio arquiteta planos


que não são compartilhados.


Quando nada é dito, nada fica combinado.




Quantas vezes, numa discussão histérica,


ouvimos um dos dois gritar:


"Diz alguma coisa, mas não fica


aí parado me olhando!"




É o silêncio de um, mandando más notícias


para o desespero do outro.




É claro que há muitas situações


em que o silêncio é bem-vindo.


Para um cara que trabalha


com uma britadeira na rua,


o silêncio é um bálsamo.


Para a professora de uma creche,


o silêncio é um presente.


Para os seguranças de um show de rock,


o silêncio é um sonho.




Mesmo no amor,


quando a relação é sólida e madura,


o silêncio a dois não incomoda,


pois é o silêncio da paz.


O único silêncio que perturba,


é aquele que fala.




E fala alto.




É quando ninguém bate à nossa porta,


não há emails na caixa de entrada


não há recados na secretária eletrônica


e mesmo assim, você entende a mensagem


Martha Medeiros

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