domingo, 18 de outubro de 2009

Song Of My Self




Eu parto com o ar...


sacudo minha neve branca


ao sol que foge.




Desfaço minha carne


em redemoinhos de espuma.


Entrego-me ao pó
para crescer nas ervas que amo.


Se queres ver-me novamente,


procura-me sob teus sapatos.


Dificilmente saberás que sou


ou o que significo.




Não obstante serei para ti boa saúde,


e filtrarei e comporei teu sangue.


E se não conseguires encontrar-me


não desanimes,


o que não está em uma parte
está noutra.


Em algum lugar
estarei a tua espera...


Walt Whitmam


tradução de Monteiro Lobato

sábado, 17 de outubro de 2009

Indelével



Mil vezes pronunciei teu nome


e te busquei no espaço infinito


da minha alma...


Mil vezes te encontrei


e te perdí na solidão


que envolve esta perfeita calma.


Mil anos te esperei chegar...

e teus braços me envolveram


como a terra envolve o mar.


E teus olhos me aqueceram


como o sol aquece o ar.


Foste um vento que passou,

um poema que marcou,


deixaste nesta canção


mil anos da saudades,

mil anos de solidão!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Morangos no Quintal


Após tantos anos ainda penso
no lago onde aprendi a nadar,
na floresta e no caminho
que eu seguia todo dia.




Nas chuvas, nos temporais,
nos cogumelos e nas flores que colhia,
nas orações que fazia.
Ainda penso no morro,
no vento e no milharal,
nas noites de tempestades
a segurança do lar,
o gosto da melancia
e o balanço no pomar.



A lua da minha janela o sono e o despertar,
os quartos da minha casa, a cozinha e a sala de jantar,
os riso e brincadeiras as brigas e choradeiras
os sonhos e pesadelos da minha vida de criança.



Minha mãe atarefada, a limpeza e o jantar,
o cheiro da comida e a roupa no varal,
o fogo no forno e a massa do pão.
A fome que não espera a chegada do meu pai,
e sempre nas refeições onze lugares a mesa,
muita briga e discussão, risos e provocações,
quantas xícaras quebradas, quanto café derramado.



Me lembro das madrugadas que íamos com meu pai
no seu velho caminhão, a madeira, os pessegueiros,
nas taperas assombradas, fantasmas
da nossa imaginação.
A horta que eu amava e a surpresa que esperava
sob as folhas verde escuras, o vermelho dos morangos
que a nossa mãe plantava.



No jardim os passarinhos e o cabelinho de anjo,
ainda sinto o perfume da rosas que a mãe amava
e nos pés o frescor da grama molhada.



Não existia tristeza só sonhos e ilusões,
a segurança no final do dia,
o banho, a sopa e o cobertor.



Mal o dia amanhecia e tudo recomeçava,
o bolo de aniversário, o pé de jaboticaba,
o balanço que chamava,
a brincadeira no barro e o bicho de pé,


os tombos e os machucados, a mordida do cachorro
e os cipós além do morro, o espinho ou o prego no pé,
o braço quebrado o joelho engessado.


A porta do meu quarto que aberta sempre ficava (medo)
e quando eu deitava do retrato na parede,
meu avô sempre piscava, da fotografia ele me olhava
toda noite ele piscava.



Tudo foi bem guardado no coração preservado,
todos os momentos e todos os sentimentos,
na fotografia do tempo as memórias
em ferro e fogo gravadas.


Tudo vive na lembrança,


na vida que me sacode,


na brisa que me balança.


Tudo vive na saudades,


nos sonhos, na ilusão.


Onze lugares a mesa,
saudades e solidão...

escrito em 09 de Janeiro de 1995
para meu pai e minha mãe

domingo, 11 de outubro de 2009

Minha Mãe Maria




"Porque Deus permite que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite, é tempo sem hora,


luz que não se apaga quando sopra o vento


e a chuva desaba, veludo escondido


na pele eurugada, água pura, ar puro,


puro pensamento.





Morrer acontece com o que é breve


e passa sem deixar vestígios.


Mãe na sua graça é eternidade.





Porque Deus se lembra


-mistério profundo de tirá-la uma dia?


Fosse eu rei do mundo baixava uma lei:


-Mãe não morre nunca,


ficará para sempre junto de seu filho.


E ele velho embora, será pequenino como grão de milho."





Carlos Drumond de Anrade

sábado, 10 de outubro de 2009

Das noites...Dos sonhos...


As noites que não durmo me pertencem,


tiro das noites não do sono


a força que me conduz.


As noites as vezes me chamam,


elas me chamam e eu vou...




Nos raios da lua cheia


o meu nome de sereia


outro nome procurar.




Nas ondas do verde mar


o verde dos teus olhos


entre as vagas encontrar...




Sobre as ondas, sobre os sonhos


sobretudo, além de tudo,


da linha que nos separa...




Além do céu e do mar


daquilo que não se vê,


além do brilho da lua,


as noites me trazem você...




Na saudades, nas lembranças


no vento que me balança.


Qualquer noite


qualquer vento


vai me levar com você!!




para Victor Hugo Matana em Maio de 1993

Saudades...



O vento que fechou teus olhos voltou,
o mesmo vento que te levou
agora dança em meus cabelos.

O vento que te levou
destruiu e devastou
em brisa leve ficou
em meus cabelos brincou.
Este mesmo vento
uma dia vai me levar
aonde ele te levou,
assim brincando
em meus cabelos dançando
o vento vai me levar...

Quando a janela se abrir
e a lua cheia brilhar
nas asas deste luar
com o vento vou voar...


escrito para Victor Hugo Matana em maio de 1993

Saudades


Venta vento ventania
me dê asas pra voar,
que esta noite eu não quero dormir
esta noite eu não quero morrer.


Venta vento, ventania
me leva pra outro lugar
que esta noite eu quero viver
esta noite eu quero sonhar!


Venta vento, ventania
desalinha a vida minha
me dê asas pra voar...




escrito em junho de 1993 para Victor Hugo Matana