segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Morangos no Quintal


Após tantos anos ainda penso
no lago onde aprendi a nadar,
na floresta e no caminho
que eu seguia todo dia.




Nas chuvas, nos temporais,
nos cogumelos e nas flores que colhia,
nas orações que fazia.
Ainda penso no morro,
no vento e no milharal,
nas noites de tempestades
a segurança do lar,
o gosto da melancia
e o balanço no pomar.



A lua da minha janela o sono e o despertar,
os quartos da minha casa, a cozinha e a sala de jantar,
os riso e brincadeiras as brigas e choradeiras
os sonhos e pesadelos da minha vida de criança.



Minha mãe atarefada, a limpeza e o jantar,
o cheiro da comida e a roupa no varal,
o fogo no forno e a massa do pão.
A fome que não espera a chegada do meu pai,
e sempre nas refeições onze lugares a mesa,
muita briga e discussão, risos e provocações,
quantas xícaras quebradas, quanto café derramado.



Me lembro das madrugadas que íamos com meu pai
no seu velho caminhão, a madeira, os pessegueiros,
nas taperas assombradas, fantasmas
da nossa imaginação.
A horta que eu amava e a surpresa que esperava
sob as folhas verde escuras, o vermelho dos morangos
que a nossa mãe plantava.



No jardim os passarinhos e o cabelinho de anjo,
ainda sinto o perfume da rosas que a mãe amava
e nos pés o frescor da grama molhada.



Não existia tristeza só sonhos e ilusões,
a segurança no final do dia,
o banho, a sopa e o cobertor.



Mal o dia amanhecia e tudo recomeçava,
o bolo de aniversário, o pé de jaboticaba,
o balanço que chamava,
a brincadeira no barro e o bicho de pé,


os tombos e os machucados, a mordida do cachorro
e os cipós além do morro, o espinho ou o prego no pé,
o braço quebrado o joelho engessado.


A porta do meu quarto que aberta sempre ficava (medo)
e quando eu deitava do retrato na parede,
meu avô sempre piscava, da fotografia ele me olhava
toda noite ele piscava.



Tudo foi bem guardado no coração preservado,
todos os momentos e todos os sentimentos,
na fotografia do tempo as memórias
em ferro e fogo gravadas.


Tudo vive na lembrança,


na vida que me sacode,


na brisa que me balança.


Tudo vive na saudades,


nos sonhos, na ilusão.


Onze lugares a mesa,
saudades e solidão...

escrito em 09 de Janeiro de 1995
para meu pai e minha mãe

2 comentários:

  1. É simplesmente lindo, cheio de emoção e verdades. Momentos que jamais voltarão, mas que ficarão pela eternidade nas nossas lembranças, nas nossas boas lembranças. Você tem o dom para escrever, sabe emocionar com as tuas palavras, consegue chegar na alma.... beijos

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  2. Maravilhoso!!!!
    Poema cheio de verdades e sentimentos... retrato de uma vida, pintura de muitas existências!!
    Talentosa minha irmã querida, sabe exprimir com palavras sentimentos profundos... me emocionei e chorei! Obrigada... te amo!

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